Resposta a surtos - responder ao poliovírus circulante derivado da vacina

Em 2017, o número de casos de poliovírus circulante derivado da vacina (cVDPV) ultrapassou pela primeira vez o número de casos de poliovírus selvagem a nível mundial. A maioria desses casos ocorreu em África. Desde 2001, a Região Africana notificou 894 casos de cVDPV e, em Agosto de 2020, 15 países estão actualmente a enfrentar surtos de cVDPV. 

Contexto dos cVDPV

Embora raros, podem ocorrer casos de cVDPV quando o vírus vivo enfraquecido na vacina oral contra a poliomielite (VOP) circula entre populações com níveis baixos de vacinação e, ao longo do tempo, modifica-se para uma forma que pode causar paralisia. Baixas taxas de vacinação em África significa que cVDPV são uma ameaça para a região.

 

Embora os cVDPV sejam um desafio, a VOP permanece fundamental para combater a poliomielite e é responsável por colocar o mundo muito perto da erradicação. Em primeiro lugar, protege toda a comunidade: quando uma criança vacinada com a VOP excreta o vírus da vacina para o ambiente, outras pessoas que mantiveram um contacto próximo podem receber protecção através de comida ou água contaminada – conhecido como “vacinação passiva”. Em segundo lugar, a VOP é pouco dispendiosa e as gotas são fáceis de administrar nas campanhas de vacinação em massa. Graças à VOP e aos esforços mundiais de erradicação, 18 milhões de pessoas conseguem andar hoje em dia quando podiam estar paralisadas devido à poliomielite. Todos os anos, 650 000 casos adicionais de paralisia são evitados em todo o mundo devido ao uso generalizado da vacina contra a poliomielite.

Equipas de vacinação em Monróvia, na Libéria, vão de porta em porta durante uma campanha nacional integrada de quatro dias para administrarem vacinas contra a poliomielite, vitamina A e comprimidos para a desparasitação a 900 000 crianças, 2015 ©️ UNICEF

Devido aos actuais surtos a nível mundial, a Iniciativa Mundial de Erradicação da Poliomielite (GPEI) lançou uma nova estratégia abrangente para 2020-21, com vista a controlar os cVDPV. A primeira parte da abordagem tripartida da estratégia envolve a criação de uma equipa de resposta rápida (ERR). Em África, a equipa foi formada em Setembro de 2019, coordenada a partir do Escritório Regional da OMS para a África (OMS/AFRO), em Brazzaville, e é composta por 20 peritos seleccionados dos principais parceiros da GPEI, incluindo a OMS, UNICEF, Centro de Prevenção e Controlo de Doenças (CDC) dos EUA e a Fundação Bill e Melinda Gates. 

 

Os membros da ERR são os primeiros intervenientes: sempre que um novo surto de cVDPV é confirmado ou exista a suspeita de um na Região Africana, a equipa é enviada para o país em 72 horas. Em primeiro lugar, investigam os casos notificados e realizam uma avaliação dos riscos. Depois, a equipa cria mecanismos de coordenação, desenvolve um plano de resposta ao surto e um orçamento para seis meses e prepara a campanha de resposta ao surto inicial.

Uma menina recebe a vacina contra a poliomielite (esquerda) e outra menina mostra o seu dedo mindinho, que está pintado após ter recebido a vacina contra a poliomielite durante uma campanha nacional integrada de quatro dias para a administração de vacinas contra a poliomielite, vitamina A e comprimidos para a desparasitação a 900 000 crianças, 2015. ©️ UNICEF

As Equipas de Resposta Rápida reúnem-se no terreno para discutirem as suas mobilizações. ©OMS

A ERR africana coordena de perto com as Equipas Operacionais “virtuais” de Preparação e Resposta Rápida (OPRTT) ao surto de poliomielite, que juntam peritos adicionais de todo o mundo.  No seu primeiro ano, a RTT acabou com três surtos de cVDPV no Quénia, em Moçambique e no Níger.


A segunda parte da estratégia é o lançamento planeado de uma vacina adicional – a nova vacina oral contra a poliomielite de tipo 2 (nVOP2). Esta é uma versão modificada da vacina oral monovalente contra a poliomielite de tipo 2 (VOPm2) que seria utilizada juntamente com as vacinas existentes e com as ferramentas de resposta aos surtos. Os ensaios clínicos mostraram que a nVOP2 fornece uma protecção comparável à VOPm2 contra o poliovírus, ao mesmo tempo que é geneticamente mais estável e, por isso, menos provável de causar novas emergências de cVDPV2. A nVOP2 pode assim ter um papel fundamental na erradicação, mas é importante relembrar que a vacina existente contra a poliomielite permanece uma ferramenta eficaz para parar todas as formas de poliomielite, desde que todas as crianças sejam vacinadas.

As equipas de resposta ao surto coordenam com as comunidades nómadas para a realização de uma campanha de vacinação direccionada no Níger, na região do Lago Chade, após um surto de cVDPV que afectou a região em 2017 e 2018. ©️ OMS

A terceira parte da estratégia foca-se no reforço da vacinação de rotina, tanto com a VOP bivalente (VOPb), como com a vacina inactivada contra a poliomielite (VIP). Quantas mais crianças forem protegidas – com qualquer uma das vacinas – mais rapidamente os surtos de cVDPV podem ser parados. “Sejam poliovírus selvagem ou cVDPV, a poliomielite propaga-se como um incêndio incontrolável em locais com baixos níveis de vacinação,” diz Richard Mihigo, Coordenador do Programa de Vacinação e Desenvolvimento de Vacinas do Escritório Regional da OMS para a África. “É necessária uma vacinação colectiva para alcançarmos a erradicação.”

Um profissional de saúde prepara uma dose da vacina inactivada contra a poliomielite (VIP) para uma criança ©️ Andrew Esiebo/OMS

Qualquer interrupção nas actividades de vacinação pode significar um grande revés na luta contra a poliomielite. Surgiu um novo obstáculo na luta contra os cVDPV quando, em Março de 2020, as medidas criadas para controlar a propagação da COVID-19 fizeram com que as campanhas de vacinação fossem temporariamente suspensas. 

 

Em Maio, a GPEI terminou com a recomendação de suspender as campanhas para os países em maior risco. No início de Julho, o Burquina Faso realizou uma campanha de quatro dias de vacinação em massa contra a poliomielite, vacinando um pouco mais de 174 000 crianças com idades inferiores aos cinco anos, enquanto a Angola vacinou quase 1,2 milhões de crianças da mesma faixa etária. As campanhas irão continuar noutros países afectados durante o resto do ano de 2020.


Um profissional de saúde demonstra como utilizar desinfectante de mãos de forma adequada para prevenir a propagação da COVID-19 antes de vacinar crianças durante uma campanha de quatro dias de vacinação em massa contra os cVDPV no Burquina Faso no início de Julho, 2020. ©️ OMS/Hilaire Dadjo
De acordo com o protocolo para prevenir a propagação da COVID-19, um profissional de saúde coloca as gotas da vacina contra a poliomielite na boca de uma criança sem tocar na sua cara durante uma campanha de quatro dias de vacinação em massa contra os cVDPV no início de Julho de 2020 ©️ OMS/Hilaire Dadjo

“As campanhas realizadas pelo Programa de Erradicação da Poliomielite demonstram que a vacinação em massa pode ser feita de forma segura seguindo as orientações rigorosas da prevenção e controlo de infecções da COVID-19,” disse a Dr.ª Matshidiso Moeti, Directora Regional da OMS para a África. 

 

África parou a transmissão do poliovírus selvagem com sucesso. A eliminação dos cVDPV é o que falta. O último esforço para livrar o continente de todas as formas de poliomielite irá necessitar que todos – desde líderes governamentais à sociedade civil e às comunidades – continuem os seus esforços para alcançarem todas as crianças com as vacinas contra a poliomielite. Com um financiamento sustentado e um compromisso unificado, o fim está à vista. 

 

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